Planeta  e Reportagem de Capa - Revista Exame 16/06/99

A Internet está erguendo impérios e revolucionando os negócios.  Bem-vindo ao mundo do comércio eletrônico.

Por Helio Gurovitz*
De : Gerente João
Para : Presidente José
Assunto : Internet Já!
Anexo : exame.doc

Senhor presidente,

Sei que é a sua secretária quem vai imprimir este e-mail para o senhor ler, porque, como o senhor faz questão de dizer, computador não é a sua especialidade, sua especialidade é ganhar dinheiro. Sei também que estou pondo meu emprego em risco com o que vou dizer abaixo, mas resolvi dizer mesmo assim, porque é o seu emprego e toda a sua empresa que também podem ir pro vinagre. É o seguinte, senhor presidente: precisamos começar a usar a Internet para vender nossos produtos e serviços. Já! No ato! É para ontem!

Com todo o respeito, senhor presidente, já se perdeu muito tempo nesta empresa discutindo em reuniões intermináveis de diretoria o que fazer com a rede mundial e com o nosso site capenga, que nem traz um endereço eletrônico para contato. Enquanto isso, os próprios diretores começam a escolher e comprar suas gravatas fosforescentes na Internet. Não dá mais para esperar, não dá mais para discutir, senhor presidente.

Todo o mundo sabe que a rede está virando o mundo de cabeça para baixo. Só falta o senhor acordar. A Amazon.com (que, caso o senhor não conheça, vende milhões de livros e CDs pela rede para o mundo todo) vale 17,5 bilhões de dólares, mais do que todas as livrarias americanas juntas.

E o mundo não é só americano. A Internet não tem fronteira. Ouvi dizer que um camarada de Manaus comprou um Omega zero-quilômetro pela rede. Tem umas freiras no Rio Grande do Sul usando computador para comprar passagem na rodoviária. Um sujeito de Varginha, senhor presidente, já anda operando na Bolsa de Valores de São Paulo quase todo dia usando a Internet. Varginha, senhor presidente, comprando ações. E não é nenhum ET.

Olha, senhor presidente, tem também muita empresa de tradição se dando bem. O Pão de Açúcar vendeu milhões no ano passado. Tem até uma garota fazendo compras no supermercado deles na Internet lá de Toronto, para entregar na casa da mãe que mora na Cidade Ademar. No Bradesco, quase 10% dos clientes já usam a Internet para movimentar suas contas. Quer saber o que um sujeito achou para comprar no site do Bradesco? Um apartamento no Morumbi. Lá no Rio de Janeiro apareceu até uma livraria virtual imitando a Amazon.com, que entrega de graça no Brasil todo. Agora, escute esta, senhor presidente: dizem que uma tal de Cisco, que faz uns computadores meio esquisitos, vai vender só neste ano uns 9 bilhões de dólares pela rede mundial. Bilhões, senhor presidente. De dólares, senhor presidente.

Três anos atrás, senhor presidente, nada disso existia, nada disso seria possível. Não podemos continuar fazendo negócio do mesmo jeito que fazíamos antes, senhor presidente. Este mundo anda rápido. Uma empresa de venda de passagens aéreas pela Web, que nem existia há um ano, já vale, no mercado acionário americano, mais que a United Airlines com todos os seus aviões. É, senhor presidente. Na década de 90 veio aquela tal reengenharia, que deixou todos nós inseguros em relação ao emprego. Agora, senhor presidente, parece que está acabando a era dos modelos de negócios seguros para as empresas. Não adianta ficar perguntando qual o modelo para ganhar dinheiro na Internet. Ninguém sabe. O comércio eletrônico está pondo tudo em xeque a toda hora. Só se sabe que o cliente sempre sai ganhando.

O pior é que também não dá para ficar um segundo parado. Estamos perdendo tempo e dinheiro, senhor presidente. Sei que pode até parecer um pouco presunçoso da minha parte, senhor presidente, mas é bom desconfiar da turma engravatada, arregaçar as mangas só um pouquinho e começar a usar o computador aí em cima da mesa pra valer. Ele não é um objeto decorativo, não. Senão não vai dar mais para o senhor ganhar dinheiro. Pode crer. Tem uns garotos em mangas de camisa, correndo depressa de motocicleta aí atrás. Eles têm gás, senhor presidente. Entendem de Internet, andam rápido e, ao contrário de nós, não têm nada a perder. Para ser bem sincero, senhor presidente, é melhor o senhor me demitir mesmo. Porque, se tudo for continuar como está por aqui, honestamente, vai ser melhor trabalhar para essa garotada que vem aí do que para o senhor.

Do seu fiel funcionário,
João

PS.: segue em anexo uma reportagem da revista EXAME de onde tirei algumas informações.

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Clique aqui para voltar para a página anterior Reprodução da Reportagem de Capa da Revisa Exame 690 - 16/06/1999. Clique aqui para ver a próxima parte da reportagem

Página publicada em 02/09/99, última revisão em 14/10/00. CiDaSE